Parque Estadual Rio Negro Setor Norte
O Parque Estadual Rio Negro Setor Norte integra com o Parque Nacional do Jaú e a Estação Ecológica Anavilhanas um conjunto de unidades de conservação do baixo rio Negro que constitui a Reserva da Biosfera da Amazônia Central. O Parque é, também, uma das poucas unidades de conservação estaduais de proteção integral com significativas porções de ecossistemas de águas pretas típicos da bacia do rio Negro.
Ele cumpre um importante papel na conservação destas espécies de grande importância regional. Além de espécies endêmicas regionalmente, ocorrem no Parque populações de vários animais oficialmente reconhecidos como ameaçados de extinção, como o peixe-boi (Trichechus inunguis), a ariranha (Pteronura brasiliensis), anta (Tapirus terrestris).
Parque Estadual Rio Negro Setor Norte |
Esfera Administrativa: Estadual |
Estado: Amazonas |
Município: Novo Airão |
Categoria: Parque |
Bioma: Amazônia |
Área: 148116,31 |
Diploma legal de criação: Portaria nº 067/2008, de 12/06/2008 |
Coordenação regional / Vinculação: Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas |
Contatos: Avenida Mário Ypiranga Monteiro, Nº 3280 - Parque Dez de Novembro - Manaus/AM - CEP: 69.050-030
E-mail: demuc.sema@gmail.com |
Índice
Localização
O Parque Estadual Rio Negro Setor Norte está localizado inteiramente no município de Novo Airão, de cujo centro urbano dista cerca de 50 km. A distância de Manaus ao Parque, em linha reta, é de aproximadamente 120 km.
Como chegar
A única via de acesso é fluvial partindo da cidade de Novo Airão, ou de Manaus, sendo que o trecho Manaus-Novo Airão dispõe de uma estrada asfaltada (AM 070 no trecho Manaus-Manacapuru e AM 352 no trecho Manacapauru-Novo Airão).
Ingressos
Onde ficar
Objetivos específicos da unidade
Preservar os ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas, desenvolver as atividades de educação, interpretação ambiental, recreação em contato com a natureza e turismo ecológico, dentre outros.
Histórico
As ações para implementação do Parque Estadual Rio Negro Setor Norte foram iniciadas em 2004 a partir de articulações com os moradores das comunidades do baixo rio Negro.
Em 2005 foi realizada uma excursão a todas as comunidades e localidades do interior do Parque para a coleta de dados sobre uso de recursos naturais pelos moradores, e uma excursão para coleta de dados geológicos e arqueológicos aconteceu em 2006.
No final de 2006, a equipe de planejamento reuniu-se para rever as estratégias e atividades voltadas à elaboração do plano de gestão.
A denominação dada ao Parque Estadual Rio Negro Setor Norte é baseada apenas na bacia hidrográfica em que está localizado. De fato, o nome não explora as especificidades do Parque, já que a bacia do rio Negro compreende uma área extensa, com outras unidades de conservação que, assim como o Parque Estadual, são também representativas das características naturais e humanas da bacia do rio Negro.
As ruínas de Velho Airão, que se encontram dentro dos limites do Parque, destacam a importância desta região no contexto histórico do Amazonas. Assim seria uma justa homenagem e uma excelente oportunidade para explorar os atributos históricos e culturais em benefício da própria unidade, se o nome do Parque fosse alterado para Parque Estadual Velho Airão.
Atrações
O Parque Estadual Rio Negro Setor Norte está localizado em uma área de grande interesse cultural por incorporar uma região onde se desenrolaram processos históricos representativos da dinâmica cultural amazônica. Parte desta dinâmica histórico-cultural está documentada nos vários sítios arqueológicos identificados na região e nas ruínas da cidade de Airão.
Belezas naturais são um dos principais atributos de uso público das unidades de conservação. O Parque Estadual Rio Negro Setor Norte apresenta paisagens de apelo cênico que podem ser incorporadas em programas de visitação turística.
Entre estas paisagens destacam-se as cachoeiras do Carabinani, que ficam totalmente expostas no período da seca. Estas cachoeiras têm recebido crescente visitação
Existem também pequenas quedas d’água em igarapés menores dentro da floresta, como as cachoeiras do igarapé São Domingos, tributário do rio Negro e do igarapé Preto, tributário do rio Jaú na sua margem direita. Os igarapés Fogo (tributário do rio Puduari) e Manixuaú (tributário do rio Jaú na sua margem direita), também apresentam atributos cênicos de interesse já que passeios fluviais podem colocar o turista em contato direto com a fauna e flora de vários ambientes da região, como matas de igapó, de terra firme e campinaranas.
O Parque também apresenta paisagens terrestres complexas e diversificadas, que podem ser apreciadas pelos visitantes. Trilhas bem posicionadas e escolhidas com base em imagens de satélite, podem incluir amostras representativas de matas de igapó, matas de terra firme, campinaranas de vários tipos, igarapés e cachoeiras menores.
Aspectos naturais
Geologia
A região do Parque Estadual Rio Negro Setor Norte apresenta uma geodiversidade bastante distinta na paisagem geral do baixo rio Negro. A maior parte do Parque está assentada em terrenos geológicos bastante antigos contrastando com grande parte das paisagens do oeste do baixo rio Negro.
A maior parte da área do Parque (62%) está assentada sobre terrenos do Grupo Trombetas e os blocos de rochas característicos dos rios Carabinani e Puduari parecem ser expressões de superfície desta formação geológica. Aparentemente a gênese do Grupo Trombetas se localiza no período Siluriano entre 390 e 425 milhões de anos Antes do Presente (AP).
Outra unidade geológica que ocupa uma área significativa do Parque (cerca de 31% da área) é a Formação Alter do Chão cuja idade é controversa, mas aparentemente situada no período Cretáceo de 66 a 96 milhões de anos AP. Os depósitos aluvionares do Quaternário cobrem uma pequena extensão da unidade (7%) e correspondem à planície de inundação dos rios (aluvião) de provável idade holocênica.
Solo
Na região do Parque Estadual Rio Negro Setor Norte é encontrado um mosaico complexo de diferentes tipos de solo com diferentes características estruturais e físico-químicas que condicionam, parcialmente, a diversidade de vegetações.
Os latossolos amarelos (LA) são os solos predominantes no Parque Estadual Rio Negro Setor Norte (50% da área) e localizam-se na região mais central do Parque nas áreas de relevo ondulado. São profundos, de coloração amarelada, perfis muito homogêneos, com boa drenagem e baixa fertilidade natural. Estes solos são ocupados pelas florestas de terra firme de cotas mais altas. Os latossolos amarelos ocupam grandes extensões no baixo e médio Amazonas e zonas úmidas costeiras.
Solos com textura arenosa do tipo podzóis também ocupam uma significativa extensão (33%). Estes solos são muito pobres em nutrientes minerais e têm textura arenosa predominante, apresentam horizontes bem diferenciados com um horizonte espódico de cores escurecidas.
Os solos podzólicos ocupam 10% da área do parque, principalmente nas bacias dos rios Carabinani e Negro. Estes solos correspondem aos argissolos vermelho-amarelos.
Hidrologia
O Parque Estadual Rio Negro Setor Norte tem seus limites coincidentes com parte das bacias dos rios Negro, Puduari e Jaú/Carabinani, sendo a bacia do rio Puduari a mais extensa. Esses limites se restringem aos setores mais próximos da foz dos rios Jaú/Carabinani e Puduari e incluem somente igarapés das margens direita do Jaú/Carabinani e esquerda do Puduari. Não foi possível um mapeamento completo das toponímias, mas os igarapés mais extensos que compõem o sistema hidrográfico do Parque são Salsa, Fogo e Bussú (bacia do rio Puduari), igarapés Igrejinha, São Domingos e Velho Airão (bacia do rio Negro) e igarapés Manichuaú e Preto (bacia do rio Jaú/Carabinani).
O nível dos rios inseridos nos limites do Parque Estadual Rio Negro Setor Norte apresenta grandes flutuações ao longo do ano. Os meses de dezembro a abril se caracterizam pela elevação do nível da água que atinge o pico de cheia no período de maio a julho. A vazante se inicia por volta de agosto, sendo que nos meses de outubro e novembro o nível do rio atinge o mínimo, expondo pedrais e cachoeiras no leito dos rios Carabinani e Puduari.
Relevo e clima
Relevo
O relevo na região do Parque Estadual Rio Negro Setor Norte, assim como em quase todo o baixo rio Negro, caracteriza-se por um terreno com cotas baixas, em geral inferiores a 100 metros de altitude. Na região de divisores de água localizada entre os rios Carabinani e Puduari, os terrenos atingem cotas acima de 60 metros, enquanto que ao longo dos grandes rios (Puduari, Salsa, Carabinani e Negro) o relevo é muito mais suave e com pequenas variações. Os terrenos com cotas baixas coincidem com as matas alagadas de igapó.
Clima
A região do Parque é caracterizada por um clima do tipo tropical chuvoso apresentando uma média de temperatura superior a 18º no mês mais frio.
Existe uma clara variação sazonal na precipitação. As chuvas se iniciam no período de dezembro a fevereiro e atingem o pico no período de março a maio. Nos meses de junho a agosto existe uma nítida diminuição das chuvas e o período de setembro a novembro é o mais seco na região. Apesar deste padrão geral, existem enormes variações anuais na quantidade de chuva que cai sobre a região. Os anos de 1991 e 1992, por exemplo, foram bastante secos, enquanto que no período de 1999-2000, uma grande quantidade de chuvas caiu sobre a região do Parque.
Fauna e flora
Fauna
Foram identificadas para a área do Parque 23 espécies de abelhas de orquídeas, 155 espécies de formigas, 147 espécies de peixes, 260 espécies de aves e 45 espécies de mamíferos entre indicadas e avistadas.
A região da bacia do rio Negro, onde está localizado o Parque Estadual Rio Negro Setor Norte, é caracterizada por algumas espécies de distribuição restrita.
Entre as aves foram identificadas algumas espécies endêmicas da bacia do rio Negro, como Hylophilus brunneiceps, uma pequena ave registrada em matas de igapó e em campinaranas. Outras espécies como Heterocercus flavivertex e Frederickena unduligera não são endêmicas da bacia, mas suas distribuições estão restritas ao noroeste da Amazônia.
Uma pequena parte da mastofauna do Parque possui distribuição geográfica mais restrita, sendo composta em sua maioria por pequenos roedores e primatas. Cacajao melanocephalus (bicó) é uma espécie encontrada no Parque que pode ser considerada endêmica da região da bacia do rio Negro. A forma sub-específica ouakary, ocorre no Brasil e na Colômbia, limitando-se ao sul pelos rios Japurá-Solimões, a oeste pelo rio Apaporis, ao norte pelo rio Guaviare (bacia do Orinoco) e a leste pelas bacias dos rios Negro-Aracá.
O Parque Estadual Rio Negro Setor Norte incorpora a área de distribuição de cerca de 10 espécies de mamíferos de médio e grande porte oficialmente reconhecidas pelo governo brasileiro e pela IUCN como ameaçadas no Brasil e no mundo:
- P. onca (onça-pintada)
- P. concolor (onça-vermelha)
- S. venaticus (cachorro-do-mato)
- M. tridactyla (tamanduá-bandeira)
- T. inunguis (peixe-boi)
- L. wiedii (gato-maracajá-peludo)
- T. terrestris (anta)
- P. brasiliensis (ariranha)
- I. geoffrensis (boto-vermelho)
- P. maximus (tatu-canastra)
Flora
Uma alta diversidade de ambientes e florestas é encontrada no Parque Estadual Rio Negro Setor Norte. Nesta análise foram caracterizados 10 tipos de vegetação e algumas variações conforme a abundância de espécies e estrutura da vegetação, entretanto, devido à heterogeneidade de ambientes na área do Parque, outras tipologias podem aparecer. As tipologias encontradas no Parque são:
- floresta de terra firme cotas altas
- floresta de vertente
- floresta de terra firme cotas baixas
- floresta de transição
- floresta de baixio de terra firme
- floresta de baixio de campinarana
- floresta de campinarana alta
- floresta de campinarana baixa
- floresta de igapó alto
- floresta de igapó baixo
- capoeira
- floresta monodominante.
Os inventários realizados para caracterização estrutural e florística de floresta de terra firme, floresta de igapó e floresta de campinarana estão longe de serem considerados completos. Além das variações entre hábitats, a composição florística das campinaranas e dos igapós localizados nas bacias dos rios Carabinani e Puduari apresentou alta dissimilaridade.
As florestas de terra firme (cotas altas e baixas) são as áreas mais representativas do Parque, correspondendo a 86,62% da área.
Problemas e ameaças
Exploração de cipó titica e timbó açu, exploração de seixo e areia, pesca comercial (geleiros e de lanço), treinamento da Marinha, caça, extração de madeira e turismo desordenado.